Mais dois líderes do partido Awa foram mortos este mês por um grupo armado desconhecido. No dia 10 de maio, Ademelio Servio Bisbicus e Marco Antonio Taicuz foram assassinados a tiros em suas casas. A esposa de Bisbicus, Bertha Taicuz, ficou ferida pelos disparos.
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Guerra às drogas em larga escala ameaça indígenas colombianos. |
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A busca pelos corpos, realizada por uma Minga, uma comissão humanitária liderada por indígenas e formada devido à ineficácia dos esforços militares de busca e recuperação, chegou ao fim no final de março. Centenas de pessoas viajaram para a região em demonstração de apoio ao povo Awa e para participar das buscas, mas as atividades foram dificultadas pelas chuvas, pela escassez de alimentos e pelos perigos de procurar em uma área repleta de minas terrestres semeadas por guerrilheiros. "A realização da Minga foi perigosa", disse Luis Evelis Andrade Casama, Conselheiro Chefe da ONIC, "mas o povo Awa sentiu que não tinha outra opção, pois é seu dever devolver os corpos de seus entes queridos à terra e ajudar as comunidades que foram confinadas em suas terras."
Inkal Awa: o povo Awa da floresta tropical colombiana
Foto cedida pela ONIC |
O povo Awa vive em suas terras ancestrais nas regiões montanhosas de floresta tropical de Nariño e Putumayo, no sudoeste da Colômbia, e nas províncias de Esmeraldas, Carchi e Imbabura, no Equador, o que os torna um povo binacional. A região de Nariño, em particular, é rica em recursos naturais – ouro, zinco, cobre, prata, platina e outros minerais – e a área também é favorecida pelo agronegócio, tanto legal quanto ilegal. Esses e outros fatores tornaram a região altamente estratégica em termos de controle militar. Todos os atores armados no conflito armado interno da Colômbia, que já dura quase 50 anos, estão presentes na região, incluindo o exército colombiano e seus aliados paramilitares, e os dois principais grupos guerrilheiros, as FARC e o ELN.
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Os Awa são o Povo da Floresta Tropical, o Povo da Montanha, o Povo do Silêncio. Agora, os Awa estão rompendo o silêncio para sobreviver. Eles estão falando sobre a crise humanitária e se manifestando contra o complexo conflito que causou violações flagrantes de seus direitos humanos e coletivos.
Crônica de um massacre anunciado
A militarização da região pelo governo colombiano intensificou os conflitos em terras indígenas. A pulverização aérea das plantações ilegais de coca cultivadas pela máfia local causa sérios danos ao abastecimento alimentar e à saúde do povo Awa. O coquetel letal de glifosato utilizado tem dizimado seus animais e plantações, além de ser apontado como responsável por abortos espontâneos e partos prematuros, e por doenças respiratórias em idosos e crianças da comunidade. Os efeitos a longo prazo desse veneno sobre as terras e os povos indígenas são desconhecidos.
Em 2007, o povo Awa trabalhou com a Defensoria Pública dos Direitos Humanos da Colômbia, o que resultou em uma resolução oficial solicitando ao governo a implementação de uma série de ações para garantir a vida e a cultura do povo Awa, mas essas ações não foram efetivamente cumpridas. De fato, no início de 2009, o Tribunal Constitucional emitiu um decreto que destaca a falta de atenção dada a 32 povos indígenas na Colômbia em relação às suas situações críticas, incluindo a dos Awa, e instrui o governo a criar planos de proteção em plena consulta com esses povos. Enquanto isso, à medida que as autoridades finalmente começam a reconhecer o problema, os Awa vêm enviando alertas há tempos, avisando sobre um massacre iminente.
Em 23 de março, o povo Awa viajou a Washington para prestar depoimento perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em uma audiência sobre a situação crítica enfrentada pelos 102 povos indígenas da Colômbia, 28 dos quais correm risco iminente de extinção. A Organização Nacional para a Conservação da Natureza (ONIC) apresentou a situação geral à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e, em seguida, representantes dos povos Awa e Eperara Siapidaara prestaram depoimento sobre suas respectivas situações. Os Eperara Siapidaara são os habitantes ancestrais das terras de Nariño e Cauca e sofrem muitos dos mesmos problemas enfrentados pelos Awa. Em setembro de 2008, cerca de 1.450 pessoas foram deslocadas à força após receberem ameaças de grupos armados. Até o momento, receberam pouca ajuda do governo e não puderam retornar.
O povo Awa está fortalecendo sua resistência, mas precisa urgentemente que a comunidade nacional e internacional tome conhecimento de sua situação, e que o governo os consulte e implemente os planos de proteção determinados pela Corte Constitucional, de acordo com seus planos de vida indígenas. Enquanto o conflito persistir, eles pedem que os diferentes grupos armados, incluindo as Forças Armadas da Colômbia, respeitem sua autonomia e não os envolvam no conflito, e que os diferentes combatentes concordem com um processo humanitário de desminagem civil em suas terras. O povo Awa também exige investimentos sociais, em vez de militares, na região, e o fim imediato das fumigações aéreas. Isso os ajudaria a exercer sua autonomia e garantiria sua sobrevivência em suas terras, que são sagradas para sua vida e cultura.